Tenho visto pessoas que não gostam de escrever redigindo para quem não gosta de ler
Entre 2001 e 2004 editei um fanzine chamado Várias Variáveis. O nome era chupado de um disco dos Engenheiros do Hawaii. O conteúdo era composto por uma maçaroca heterogênea que ia dos quadrinhos aos artigos políticos.
Aqui é preciso abrir um parêntese para explicar o que é fanzine. O termo vem da junção de fan magazine. Uma revista feita para fãs e pelos fãs. Éramos fãs de quadrinhos, de música, de artigos, por isso criávamos nossa própria publicação com periodicidade irregular.
A edição era feita de modo artesanal. Cortávamos, colávamos, escrevíamos os textos numa velha máquina Olivetti, fotocopiávamos e distribuíamos os exemplares pelo preço que pagávamos de xerox. Nos correspondíamos – via correio, acredite – com pessoas de outras cidades, até de outros estados, que também faziam seus “zines”. Era uma emoção muito grande receber a encomenda diretamente das mãos do carteiro.
Geralmente, chegava um envelope pardo contendo a nova edição da revista artesanal, feita por aquele amigo que eu só conhecia por correspondência. Sabe como nós descobríamos essas pessoas dispostas a manter contato? Na seção de cartas das revistas que líamos. Era como a área de comentários dos blogs, só que mais organizada. Ficava muito feliz quando encontrava alguma mensagem de algum zineiro querendo se corresponder.
A internet já existia, mas lá em Ipiaú, pequena cidade no interior da Bahia, ela ainda não tinha se popularizado tanto. Eu morava num bairro periférico e ainda escrevia na já citada Olivetti.
Fazíamos tudo isso para poder nos expressar, para fomentar novos amigos, para compartilhar experiências. Não pensávamos em ganhar dinheiro fazendo zines, muito pelo contrário, tínhamos certo gasto nessa brincadeira.
Em 2003 um amigo me apresentou aos blogs. Fiquei apaixonado. Imagine o potencial que poderia ter uma ferramenta como aquela. Não seria preciso esperar por semanas até que uma carta chegasse com os comentários sobre sua produção. A comunicação seria quase que instantânea, o alcance seria muito maior, poderíamos usar imagens coloridas, sons.
As possibilidades criativas seriam muito maiores. E foram. Desde 2004 que não publico em fanzines. Toda a minha produção que sai impressa, desde então, é de cunho profissional. Meus experimentos, meus hobbys, minhas tentativas de travar diálogo sem o peso da profissão, estão nos blogs que venho mantendo. Só fico triste por perceber que, hoje, boa parte dos blogueiros estão mais focados em “ganhar dinheiro” do que em compartilhar experiências.
Peço ao amigo leitor que não me entenda mal, não há nada de errado em receber pelo seu trabalho. No entanto, quando isso se torna a única coisa que importa, não há mais diálogos, não há mais compartilhamento de experiências – apesar da ilusão criada pelas redes sociais -, não há mais humanidade.
O que sobrou foi uma quantidade muito grande de produtos e serviços à venda. Diante dessa situação, eu fico me perguntando: quem compra tudo isso?
Vamos trazer de volta o blog como rede social, afinal, ninguém lê textos com mais de 6 linhas no Facebook. Mais interessante do que ver suas selfies diárias é saber o que você pensa e por quê pensa assim.
José Fagner Alves Santos
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