A relatividade não é absoluta

 

A literatura pode servir como entretenimento ou como ferramenta de introspecção. A escolha é sua



Outro dia uma amiga perguntou o motivo de eu não gostar de literatura fantástica. Tentei explicar que eu gosto de todo tipo de literatura desde que seja bem escrita. Ela contra argumentou, dizendo que tudo é relativo. Concordo, até certo ponto. Se ficarmos apenas no campo daquilo que mais me agrada, estou certo de que tudo é relativo. No entanto, não há como comparar o texto sincero de alguém que tenha algo a dizer com a escrita macaqueada de algum fã imaturo tentando arremedar o que leu.

Experimente ler algo do Isaac Asimov, do George Orwell, do John Ronald Reuel Tolkien, do C. S. Lewis, do Lewis Carroll. Todos esses autores têm algo a dizer – embora nem todos sejam criadores de literatura fantástica. Não é só criar um mundo imaginário com criaturas místicas, anões, gigantes, elfos e fadas. É preciso ter algo a dizer. E quando isso acontece a prosa se torna sincera, mesmo que o autor esteja escrevendo contos de fada.

É semelhante a olhar para uma pintura que foi feita baseada num modelo e compará-la com outra que o pintor elaborou apenas com os recursos da memória. Eu sei que algumas pessoas dirão que a comparação não foi boa, que a literatura fantástica não precisa ter nenhum vínculo com a realidade. Bem, eu discordo. Acredito que há a necessidade de se ter o mínimo de similitude com aquilo que conhecemos. Você pode construir um universo inteiro em sua mente, mas se ele não tiver um único ponto de referência com aquilo que outras pessoas conhecem, ele continuará sendo um universo só seu. E digo mais, até hoje não vi nenhum universo fantástico que não utilizasse o mundo real como referência, nem que fosse para desconstruí-lo.

A vida é muito curta para que possamos ler todos os livros que nos pareçam interessantes, por isso é preciso selecionar. Quais são suas prioridades? O que é realmente importante para você? Se a sua prioridade for a diversão, se o importante para você é o entretenimento, sinta-se à vontade para ler as inúmeras versões de romances vampirescos ou de apocalipse zumbi.

Eu, por minha vez, prefiro usar a literatura como ferramenta para entender a sociedade em que vivo, o comportamento humano, as questões políticas, os valores culturais, a transitoriedade da existência. Mas aí, eu caio numa questão de preferência e essa é uma questão subjetiva, relativa. Nesse ponto eu concordo com a minha amiga.


José Fagner Alves Santos

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