Já que o leitor é aquele que não lê, é preciso multiplicar as plataformas pelas quais veiculamos nossas mensagens
Voltar a escrever é sempre complicado. O hábito não é exercitado há muito tempo. Leituras e produções para o mestrado tomaram quase todo o meu tempo nos últimos dois anos. As produções para o blog foram minguando pouco a pouco. E agora? Como recomeçar? Sobre o que escrever? Será que terei leitores novamente?
Não tenho a menor ideia do que me espera. Ler e escrever não são fatores naturais, são habilidades adquiridas. É preciso anos e anos de prática de leitura para formar um leitor habilitado. Não basta decifrar os fonemas silábicos, é preciso compreender a mensagem, em parte e no todo. Com a escrita, muitas vezes, é preciso uma dedicação ainda maior. No Brasil, no entanto, apenas 8% da população em idade de trabalho tem condições de se expressar ou compreender plenamente por meio da escrita.
A porcentagem não é muito animadora, mas os jornalistas sabem disso há tempos. Talvez não soubessem do valor exato, mas sabiam que o número era baixo. Por isso os títulos precisam ter verbo de ação, o primeiro parágrafo precisa conter as informações mais importantes, as frases são escritas na ordem direta, palavras pouco usuais são sempre seguidas de uma explicação conceitual simplista, etc., etc.
Podemos até argumentar em favor dos benefícios que a leitura traz para o desenvolvimento intelectual, mas a verdade é que ela não é natural, precisa ser estimulada, praticada, exercida. Natural é a fala. Por isso é mais fácil conversar com os amigos, ouvir um programa de rádio ou um podcast, assistir à TV ou a um vídeo no Youtube.
Não estou dizendo que o blog morreu. Acredito que ele está mais vivo do que nunca, mas, se tivermos a intenção de aumentar o número de acessos, será importante diversificar o tipo de conteúdo. Os textos eram a forma mais viável nos primórdios da internet, mas hoje os vídeos tomaram conta. Mesmo as publicações em áudio já não fazem mais tanto sucesso.
É claro que essa diversificação será implantada aos poucos, de forma lenta e gradativa. Afinal, será preciso desenvolver a expertise que ainda não temos. Os textos, por sua vez, ainda serão o nosso carro chefe, pelo menos até segunda ordem. Os temas? Bem, temos a sorte de nos intitular: Editoria Livre. Podemos tratar de qualquer assunto, sempre sob uma óptica literária – ou pretensiosamente literária, vai saber.
A escrita nos permite formular melhor a frase, pensar duas vezes antes de dizer algo, exercitar certas regiões do cérebro que não seria possível de outra forma, obter um caráter mais intimista com você que está me lendo agora.
É por esse motivo que não abro mão do texto escrito. É ele que me permite o contato com toda a herança cultural da humanidade, é a ferramenta que nos proporciona conhecer o pensamento de Platão e Aristóteles, Nietzsche e Sartre, Paulo Coelho e Jô Soares.
Ainda não sei se será possível manter uma periodicidade estável, mas posso garantir que algum esforço será feito nesse sentido. Talvez, com o exercício da escrita diária, eu encontre minha voz e adote um tema para me aprofundar.
José Fagner Alves Santos
Foto: Vinícius Sgarbe
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