Já passou da hora de lermos as produções femininas


O jornal Folha de S.Paulo recentemente publicou um artigo perspicaz sobre o direito das mulheres à literatura. O artigo começa com uma citação de Antonio Candido, que considera a literatura como um direito inalienável do indivíduo, indispensável para a humanização. A escritora argentina María Teresa Andruetto é citada como alguém que vê a literatura como um espaço de desacato, um meio que questiona e perturba as certezas.

O artigo levanta questões importantes sobre como garantir às mulheres brasileiras o acesso à leitura e à fruição literárias. Ele destaca a necessidade de abordar a iniquidade histórica do acesso das mulheres à educação e aos direitos políticos, bem como a possibilidade de se expressar e de fazer da literatura um espaço de desacato às narrativas consagradas.

O artigo menciona Nísia Floresta, que em 1838 desafiou a sociedade ao abrir uma escola para meninas, ensinando línguas, matemática, ciências naturais e sociais. Também é mencionado o direito ao voto feminino, incluído na Constituição de 1934, após décadas de insolência e teimosia, além das perseguições a quem lutava por direitos políticos iguais aos dos homens.

O artigo reconhece que ainda hoje existem muitas barreiras para as meninas terem acesso à educação e desfrutarem da literatura como direito. Essas barreiras incluem condições socioeconômicas, trabalho doméstico, pobreza menstrual e gravidez precoce, todas associadas à falta de políticas públicas antirracistas e antissexistas de ensino.

O artigo expressa indignação ao entender as razões pelas quais os esforços das mulheres para concluir diferentes etapas do ensino formal permanecem invisíveis, refletindo pouco em chances efetivas de obter igualdade salarial e de oportunidades em relação aos homens com funções e formação semelhantes.

A lista de livros obrigatórios anunciada pela Fuvest para os vestibulares do triênio 2026-28, composta exclusivamente por escritoras de língua portuguesa, é vista como um desacato radical. A autora do artigo, 
Cristianne Lameirinha, vê isso como uma oportunidade única de levar escritoras às salas de aula e debater o quão subversiva pode ser a escrita de uma parcela relevante da população brasileira e mundial, cuja produção se mantém marginalizada, principalmente por questões de gênero.

Lameirinha conclui destacando que a nova lista terá impacto no mercado editorial e, sobretudo, no ensino de literatura. Isso exigirá um esforço de leitura e análise das obras, além de pesquisa e (re)conhecimento das autoras como artistas e sujeitos de suas épocas. Além disso, ampliará a repercussão das literaturas de autoria feminina entre jovens leitoras, que terão a possibilidade de ver representadas a si mesmas e a suas pautas, esperançosamente encurtando o caminho das mulheres rumo à garantia de seus direitos sociais, entre eles, o direito à literatura.

O artigo da Folha de S.Paulo é uma reflexão profunda e necessária sobre o direito das mulheres à literatura, destacando a importância de garantir o acesso à educação e à expressão literária para todas as mulheres. Ele desafia as normas estabelecidas e pede uma mudança radical na forma como vemos e valorizamos a literatura feminina. É uma leitura essencial para qualquer pessoa interessada em literatura, educação e direitos das mulheres.

José Fagner Alves santos

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