A arte, em suas várias formas, tem sido uma maneira de capturar e transmitir a experiência humana. No entanto, a estilização das formas humanas pelos artistas gregos, embora pareça apreender o vivido, é na verdade uma ilusão de sucesso. Ao ampliar o repertório da fábula no cotidiano e na intimidade, o pintor-ceramista passou a uma nova codificação dos gestos. Essas operações “descritivas” resultam na aparição de motivos gestuais que podemos qualificar como “já estruturados na experiência”.
Esses gestos, que são monumentos característicos dos ofícios e sinais de boas-vindas ou de hostilidade empregados todos os dias, são estereotipados e repetitivos. Eles são construídos e codificados na experiência vivida, tanto na cultura ocidental e pós-medieval quanto na alta e baixa antiguidade.
Podemos dizer que a primeira figuração é da alçada do sagrado e a segunda, do comum, do profano. Ambas acolhem gestos que ajudam a preservar. No primeiro caso, encontramos seus ecos na liturgia; no segundo, no teatro, na pantomima e, obviamente, na arte oratória. Desde Cícero e Quintiliano, o domínio da retórica é dotado de gestos instrumentais, bastante estudados e transmitidos até hoje.
Alguns gestos desempenharam um papel importante na nossa civilização e ganharam interesse imediato no Renascimento. Entre eles estão o gesto da oração, o gesto do silêncio e o gesto da admoestação com o indicador. Eles ilustram o papel impressionante reservado à mão.
Um estudo magistral mostrou o que está em jogo num dos gestos litúrgicos fundamentais, o da oração. As mãos juntas não pertencem aos movimentos reflexos; elas só se encontram nas imagens universais como sinal de sujeição. A oração na liturgia cristã se exprime pelo gesto do orante, com os braços afastados, que intervém cinco vezes durante a missa católica. Este gesto foi parcialmente recalcado ao longo do século XIII, pelo gesto de oração manibus junctis.
A junção das mãos, embora tardia, constitui um dos momentos complexos, um dos ápices do código medieval. As representações que temos dela foram indispensáveis para reconstituir sua evolução e seu sentido.
O gesto do silêncio é outro exemplo de um gesto codificado que tem um papel importante na nossa civilização. Este gesto, muitas vezes representado por um dedo sobre os lábios, é universalmente reconhecido como um sinal para parar de falar ou fazer barulho. Ele é usado em várias situações, desde a sala de aula até o teatro, e é um exemplo de como um gesto pode ser codificado e transmitido através de culturas e gerações.
O gesto da admoestação com o indicador, por outro lado, é um gesto que é usado para repreender ou advertir alguém. Este gesto, muitas vezes acompanhado de uma expressão facial séria, é outro exemplo de um gesto que foi codificado e transmitido através de culturas e gerações.
A codificação dos gestos na arte e na vida cotidiana é uma maneira complexa e multifacetada de capturar e transmitir a experiência humana. Seja no sagrado ou no profano, esses gestos desempenham um papel crucial na preservação da cultura e da história. Eles são uma parte integral da nossa comunicação e expressão como seres humanos, e o estudo deles oferece uma visão fascinante da nossa civilização e do nosso passado.
José Fagner Alves Santos
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