Sayo, aos 28 anos, enfrenta uma reviravolta devastadora após um acidente de carro nos arredores de Kyoto, Japão. Em Doce Amanhã, Banana Yoshimoto leva os leitores por uma jornada pós-morte, onde a protagonista se depara com alucinações, espíritos e reflexões filosóficas sobre vida, perda e a efemeridade do tempo.
O romance, traduzido por Jefferson José Teixeira, tem todos os ingredientes para uma leitura rica, mas às vezes a mistura de momentos delicados com clichês superficiais cria um sabor estranho. Sayo, após sua experiência de quase morte, desenvolve a habilidade de ver espíritos, e é aí que Yoshimoto introduz elementos intrigantes, como a amizade peculiar com um homem que não consegue enxergar a alma da mãe.
O bar local também se torna um ponto central na vida de Sayo, onde ela forma uma conexão com o dono do estabelecimento. Contudo, esses relacionamentos muitas vezes parecem forçados, e as passagens no bar poderiam oferecer uma visão mais profunda do mundo interno da narradora, mas, infelizmente, deixam a desejar.
Em meio a comentários ensaísticos, o livro se perde em momentos que poderiam ser mais bem explorados com uma narrativa mais focada e descritiva. Comparando com obras contemporâneas como "O Amigo" de Sigrid Nunez e "Frio o Bastante para Nevar" de Jessica Au, Doce Amanhã parece excessivamente açucarado em sua abordagem.
Yoshimoto, conhecida por suas obras como "Kitchen", aborda temas densos como morte e luto, mas sua narradora muitas vezes soa simplista e até infantil em suas reflexões. As tentativas de oferecer respostas para as dúvidas levantadas na história acabam empobrecendo um romance que tinha potencial para muito mais.
Os momentos contemplativos que garantem uma distensão do tempo são interrompidos por uma narradora apressada em tirar conclusões sobre cada experiência vivida. O excesso de açúcar na abordagem pode deixar os leitores ansiando por uma narrativa mais equilibrada, como a encontrada nas obras de Haruki Murakami.
Embora Doce Amanhã tenha sido escrito após o terremoto de Fukushima, buscando transmitir uma mensagem de esperança e conforto, talvez uma abordagem menos ambiciosa teria servido melhor ao propósito. Os momentos singelos e encontros com outras pessoas oferecem lampejos de uma história que poderia ter explorado mais a fundo as complexidades do luto e da reconstrução.
Em última análise, Doce Amanhã é um romance que busca a serenidade diante da perda, mas às vezes se perde em sua própria pressa em comentar sobre as pequenas coisas terríveis e maravilhosas que compõem a jornada da protagonista. O açúcar, nesse caso, talvez devesse ter sido dosado com mais parcimônia.
José Fagner Alves Santos
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