Desvendando a Cidade Moderna: Uma Jornada através de ‘Rua de mão única



Temos uma nova edição que traz de volta às livrarias a contribuição fundamental de Walter Benjamin para compreender a cidade moderna. O livro “Rua de mão única”, publicado em 1928, reúne sessenta escritos de Benjamin que desestabilizam o formato de narrativa contínua e claramente encadeada. Esses fragmentos, também chamados de “imagens de pensamento”, podem ser lidos em sequência ou como unidades de sentido próprio.

Em um dos textos, intitulado “Primeiros socorros”, Benjamin registra uma transformação urbana. Ele descreve um bairro extremamente confuso, uma rede de ruas que ele evitava, que de repente se tornou compreensível para ele quando uma pessoa amada se mudou para lá. O bairro passa a emitir luz própria, não é apenas possível compreendê-lo em seu funcionamento interno, há o desejo de fazê-lo. O que altera o jogo é o apaixonamento, o amor que se territorializa na cidade, provoca descobertas e expande os horizontes de até onde se pode — e se quer — caminhar.

A nova edição do livro, publicada pela Editora 34, inclui um apêndice com textos que permitem trilhar novas interpretações. Além de três resenhas do livro, a edição inclui um texto escrito a quatro mãos por Benjamin e Asja Lacis, sobre a viagem que fizeram a Nápoles, e outro apenas dela, sobre a viagem também conjunta a Capri, em 1924. O livro é dedicado a Lacis, dramaturga letã que trabalhou com Bertolt Brecht.

Rua de mão única” também pode ser lido como um ensaio para “Passagens”, a obra magna inacabada de Benjamin. O livro destaca a centralidade das grandes cidades, a caracterização da modernidade na virada do século 19 para o 20, a constituição do espaço doméstico burguês em oposição ao espaço público, e a mercadoria permeando as relações de troca.

Em “Brinquedos”, Benjamin descreve Riga, uma cidade comprimida de tendas baixas de madeira, estendendo-se sobre um molhe, um largo baluarte de pedras sem depósitos, ao longo das águas do Dvina. Ele observa a mercadoria pintada em todos os lugares, antecipando a conexão entre mercadoria e transformação do espaço construído que atingiria seu ápice com as passagens parisienses.

Rua de mão única” também retrata a criação do interior burguês, com seu mobiliário exuberante, mas sem alma, confortável apenas para o cadáver. Benjamin traça a relação entre a constituição desse interior repleto de texturas táteis e a coleção de imagens que determinam personalidade e status, com os romances de crime que evocam o terror da casa.

A nova edição de “Rua de mão única” preserva a excelente tradução de Rubens Rodrigues Torres Filho e adiciona mais elementos para que possamos ler, com novas lentes, um dos autores mais importantes e fundamentais da filosofia contemporânea e da Teoria Crítica. O livro é uma contribuição fundamental para a compreensão da cidade moderna e da modernidade na virada do século 19 para o 20.

A obra de Benjamin destaca a centralidade das grandes cidades e a constituição do espaço doméstico burguês em oposição ao espaço público. Ele traça a relação entre a constituição desse interior repleto de texturas táteis e a coleção de imagens que determinam personalidade e status.

Em suma, “Rua de mão única” é uma obra que desestabiliza o formato de narrativa contínua e claramente encadeada, oferecendo uma nova maneira de entender a cidade moderna e a modernidade. Através de suas “imagens de pensamento”, Benjamin nos convida a ver a cidade e a modernidade sob uma nova luz.

José Fagner Alves Santos

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