A história começa quase como um thriller, com um assassinato seguido de suicídio, numa instituição para deficientes, em Amsterdã. O médico e gênio da matemática e da física austríaco Paul Ehrenfest estoura os miolos do filho adolescente com síndrome de Down para evitar que ele caia vítima do antissemitismo e da pseudociência eugênica do nazismo, e com a mesma arma dá cabo da própria vida, havia tempos um fardo insuportável.
O segundo maníaco retratado por Labatut é o matemático húngaro John von Neumann, que morreu naturalizado norte-americano. Mais que um gênio da informática, precursor do computador moderno e principal cabeça da Teoria dos Jogos, foi um polímata a quem até já atribuíram o partejo do século 21, por conta de seus estudos sobre o algoritmo e suas pesquisas sobre máquinas autorreplicantes, inteligência artificial e outros “sonhos loucos da razão”.
A narrativa é construída a partir de uma ampla galeria de figuras reais que determinaram os rumos do conhecimento no século passado, e trazendo uma modulação hipnotizante entre realidade e invenção que deu fama mundial a Labatut. O livro é um thriller sobre o passado e o futuro de uma humanidade que teve uma alma capturada pelo feitiço das operações matemáticas.
A história de John von Neumann é apresentada por familiares, colegas e rivais, traçando um perfil com nuances: gênio, machista e ególatra. Von Neumann é uma figura assombrada por dúvidas sobre os limites da matemática para descrever a realidade, a possibilidade de se modelar a motivação humana, e a replicação de entidades biológicas.
O livro também explora a vida e o legado de John von Neumann, um matemático húngaro que foi um precursor do computador moderno e uma figura central na Teoria dos Jogos. A resenha sugere que o livro é uma leitura envolvente que oferece uma visão profunda dos desafios que a humanidade enfrenta na era da inteligência artificial.
Von Neumann deu contribuições fundamentais para o desenvolvimento dos computadores e da inteligência artificial, para a teoria dos jogos, adotada por várias disciplinas, para a mecânica quântica e vários outros campos.
Von Neumann afirmava que a sobrevivência da humanidade depende da nossa capacidade em promover melhores formas de cooperação. É irônico perceber que um dos criadores das bombas “destruidoras de mundos” ofereça o melhor conselho para lidarmos com os desafios e riscos da ascensão da inteligência artificial. É preciso lidar, mais uma vez, com um dos legados da trajetória de John Von Neumann.
O livro culmina com um confronto eletrizante entre humanos e computadores no jogo de Go, um jogo de estratégia milenar mais complexo que o xadrez. Em 2016, a humanidade teve o primeiro vislumbre da verdadeira inteligência artificial no lance 37 na partida de Go disputada entre o campeão mundial, o sul-coreano Lee Seedol, e AlphaGo, o computador criado pela DeepMind Technologies.
Labatut retrata o triunfo da máquina com a devida tristeza, mas também destaca o único lance vitorioso do humano no jogo como uma fresta de esperança para aqueles que acreditam na superioridade da intuição humana frente aos computadores. No entanto, o epílogo de “MANIAC” pode ser encarado como um alerta da realidade que está por vir.
“MANIAC” é um livro que prende o leitor, explorando a vida e o legado de John von Neumann e as implicações de suas contribuições para a ciência e a tecnologia. A obra reforça o lugar de Benjamín Labatut entre os grandes da ficção latino-americana contemporânea, oferecendo uma visão profunda e instigante dos desafios que a humanidade enfrenta na era da inteligência artificial.
José Fagner Alves Santos
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