Na mais recente parcela do drama de antologia da HBO, há uma ousada recusa em separar a brutalidade sensacional da vida cotidiana. Esta revisão feminista, assumindo o comando das origens machistas da série, traz nova vida à narrativa. Os investigadores, em sua maioria homens, do criador Nic Pizzolatto lutaram contra crimes horrendos em temporadas anteriores, assombrando-os por anos. Agora, sob o comando da escritora-diretora Issa López, a ação se desenrola na escuridão sinistra de Ennis, Alasca, emprestando à temporada seu arrepiante subtítulo, Night Country (Terra Noturna).
A história se desenrola em torno de um cenário arrepiante de cientistas mortos, seus rostos congelados de horror, descobertos no deserto ártico. Entre eles, a língua decepada de Annie Kowtok, uma nativa que lutou contra a dependência da cidade por postos de emprego em uma mina local, emerge misteriosamente. Entram em cena as detetives Danvers e Navarro, lutando com uma história que ameaça sua credibilidade no novo caso.
Enquanto a versão de Pizzolatto carecia de profundidade nos personagens femininos, esta temporada se deleita com suas complexidades. A chefe Danvers esconde instintos maternos e lutas pessoais sob sua aparência dura. Enquanto isso, a estreante Kali Reis, com sua presença naturalista, traz profundidade a sua personagem, Navarro, que enfrenta ameaças tanto externas quanto internas.
A direção de López ressuscita a franquia, mesclando horrores humanos com realismo mágico semelhante ao seu filme de maior sucesso, "Os tigres não têm medo". Ela navega habilmente pela ambiguidade, deixando perguntas sem resposta, especialmente em relação às visões da irmã de Navarro. O diálogo pode carecer do estilo de Pizzolatto, mas López compensa com imagens que são ao mesmo tempo aterrorizantes e cativantes.
"Terra Norturna" subverte os tropos de gênero dos policiais, explorando temas de vingança e autoridade moral. Ele mergulha na complexidade dos relacionamentos em meio a mistérios sobrenaturais, transformando "True Detective" em um programa com substância. Através de uma narrativa íntima, López dá voz a uma nova narrativa - uma que exige atenção.
José Fagner Alves Santos
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